terça-feira, 21 de setembro de 2010

E Agora José?
[...]
E agora você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?

Tic-tac, as horas passam, o frio entra pela fresta da janela, um pequenino espaço entre a janela e o batente, como pode entrar tanto ar por esse minúsculo espaço?
Gelado, gelado... Arrepios profundos soam numa alma ‘Joseana’... E Agora?
Qual será a fresta aberta do meu coração?A que fica rente ao batente da artéria pulmonar ou rente a aorta?Não sei, mas venta... Um ar frio entra e percorre cada veia e espaço de sangue pulsante. E agora, José?

Se ao menos... arrumasse uma ferramenta para consertar essa frestinha, podia desemperrar a parte da janela que não chega até ao final e  não encosta no batente, e assim proibiria a entrada gélida de um ar infeliz no meu coração, mas..

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Espero o sol para que acalme o movimento do balanço das árvores, para que as folhas não batam na janela e estimulem a entrada do vento, mas a previsão do tempo indica frio, chuva e solidão, então...

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?



[Trechos da poesia “E Agora, José?”- Carlos Drummond de Andrade]

(Drummond na voz de Drummond)

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