segunda-feira, 27 de dezembro de 2010


Cuidar !
- Lembra daquele cafuné da sua infância?Aquele que sua avó fazia...
-Sim, sim, lembro. Por quê?
-Então, você sempre dizia que gostava, que se sentia acolhi...
- Por que você está falando disso? Preciso terminar aqui, quero assistir o jogo...
- Ah !É que você dizia que espantava vários fantasmas e a sensação de proteção lhe cobria a alma...
-Vou assistir ao jogo...
Na mesa sozinha, olhava os pratos, cada talher, batia os dedos nos copos e pensava no  quanto queria dizer que precisava de um cobertor para a Alma.No quanto,  ela precisava ser notada. No quanto ela só precisava de um colo e um pouco de cafuné...


domingo, 26 de dezembro de 2010


“EM TERRA DE CEGO QUEM TEM UM OLHO É REI”
Será?!?
Incumbida de corrigir uma redação sobre esse tema, fiquei bem feliz e satisfeita. Gosto de temas filosóficos. Detesto a fórmula, a moldura textual do vestibular. E, portanto, quando o tema traz algo mais reflexivo sinto que a ‘forma correta’ pode ser, sutilmente, derrubada. Passei então a refletir sobre um viés desse tema...
Ás vezes penso: “- Onde está a deficiência? Aliás, existe deficiência? Existe diferença? O que distingue tanto? O que são os sentidos?

(...)

Chacoalha! Chacoalha!Mas não sai. Ali sentada, ela não entendia porque não respeitavam, porque as crianças zombavam, porque os adultos olhavam com dó. Ela podia ouvir, falar, sentir... Já não estava bom?
Continuava tentando tirar, mas parecia ter se tatuado em sua pele. Uma tatuagem móvel que escorregava por todo seu pequeno bracinho.
Não queria usar seus dedinhos para tirá-lo. Queria que ele saísse por livre vontade. Porém, ás vezes, chacoalhava seu corpo. Não para tirá-lo totalmente. Mas, sim, para sentir as cócegas do seu movimento.
Sentada, naquela pedra, se pôs a imaginar o que lhe estaria causando tamanha curiosidade, alegria e repugnância. Que misto de vida!
O desejo de conhecer o desconhecido fazia com sua outra mãozinha quisesse tocá-lo. Era tudo uma novidade!No entanto, o sabor do mistério era ganancioso, queria saboreá-lo calmamente. Era um brincar com o quê ainda não tinha nem nome!
Com o bracinho esticado, tentou ajeitar todo seu corpo sobre a pedra, até encostar seus grandes cachos para descansar. E ali, sossegadamente, se pôs a imaginar. Entre o cheiro de orvalho, pensou em uma pétala de rosa. Depois quis imaginar um pedaço de madeira, com seu cheiro mais forte e encorpado. Porém, seu peso não o deixava ser.
O vento ia soprando... e soprando com cheiro de chuva. Sua franja sambava sobre a sua testa, também lhe causando cócegas. Era toda riso!
Com o vento entrando intenso, pelas suas narinas, ia se transformando em uma boneca de pano. Leve, levinha! Chacoalhava! Chacoalhava! Sambava um coração!
Em meio a suas gargalhadas, mexeu o bracinho e sentiu o desconhecido escorregar... Foi caindo devagarzinho! Mas quando, finalmente, parecia que ele cairia no chão, um vento o levantou e o arrastou para o céu. Ele também sambava como si só!
Ela, logo, concluiu e ficou sonhando com a linda borboleta multicolorida que estava, solenemente, pousada sobre seu bracinho. Filosofava sobre a honra de ter sido escolhida como ponto de descanso. Chacoalhava! Chacoalhava! Risos e mais risos! Sorrisos!
Enquanto isso, aquele pequenino e desprezado pedaço de papel continuava voando, com o vento... Chacoalhando!Chacoalhando! Sambando como si só ! Risos e mais risos! Sorrisos...



sábado, 25 de dezembro de 2010

Gosto do sabor da chuva. Gosto de sentir a chuva, na minha pele, poro a poro. Gosto de andar na terra, meio molhada, e sentir com intensidade a sua maciez. Principalmente, senti-la se fundir a sola do meu pé.
Gosto de fusões, principalmente, quando acontecem entre pessoas. Seja em um bate-papo, em um olhar, beijo, sorvete, conversa e/ou em uma vida!Gosto de sentir o gosto do outro, apalpar, tocar, segurar, fazer e ser.
Gosto daquela frase que não precisa ser dita, mas que pela fusão o outro entende e capta o sentido no ar.
Gosto do carinho que se transpassa pela fusão de um abraço. Do calor intenso e avassalador da fusão de corpos, em uma noite de amor.
Gosto das palavras sussurradas, dos segredos infantis, das piadas dos amigos, que passam gerações pela fusão do riso.
Gosto do riso, depois de lágrimas. E das lágrimas depois do riso, daquelas que os olhos não agüentam, depois da fusão intensa de corpo e alma. A fusão primordial que dá ao ser humano a sua melhor roupagem, seja de festa ou de luto.Mas que o faz viver e ser...
Gosto mesmo das fusões! As minhas me mostram que sou humana demasiadamente humana... e só!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

I-N-D-I-F-E-R-E-N-Ç-A

Talvez, a pergunta seja quantas vezes , ainda, irei escrever sobre esse tema. Ou, talvez, não precise de mais questionamentos.
Ódio! Ódio! É difícil quando você chega a conclusão de que não sabe o real significado de uma palavra. Foi assim com o ódio, em uma sessão de análise...Ah! Minhas sessões de análise!

- "Talvez, eu não tenha o direito de odiar". Dizia ela, dizia eu, dizia nós.

Silêncio...

Nenhuma reação dele, nenhuma reação minha. Inerte!

- "Talvez, aqui dentro só caiba outros sentimentos..."

Ela pintou um arco-íris. Ela colou  post - its coloridos pelas paredes. Ela assobiou "sem mandamentos". Ela andou na corda bamba. Ela guardou um segredo terrível. Ela desistiu para achar. Ela perdoou... perdoa... perdoará...

- "Talvez, só caiba Amor".

Daquele mais profundo, intenso e aflito. Na sua melhor versão! Daquele que supera, entrega e busca. Na intensidade exata de um remédio contra a indiferença.
Talvez, seja um instinto de proteção. Uma vontade de estar por perto, de falar que ama, cuida e cuidará. De mostrar a língua para os defeitos e se meter em uma briga  para defender quem precisa.
Vontade de segurar a mão, olhar na boca, beijar os olhos e dizer - "Esperarei, estou com você"-. Desejo de perguntar - "Quer chorar? Quer rir? Não importa o que seja, estarei ao seu lado"-. De gritar  - "Tenho dois ombros, e, sempre, posso emprestá-los"-.
De passar a noite em claro, segurando uma mão. Pegar no colo, embrulhar no cobertor e contar história. Se vestir de palhaça, falar piadas e conversar com gnomos. Fazer uma fogueira gigante, unir uma roda e se esquentar pela conversa. Falar, ouvir e ser ouvida!
Anseio por olhar o passado como aprendizado. Acreditar que traumas são lições para se fazer poesias. Emprestar giz-de-cera para as paredes cinzas. Doar avós e avôs, contadores de causos, para cada casa. Abrir o saco do Papai-Noel e jogar presentes pelo caminho. Junto com o sorvete, do parque de diversão, daquela tarde, em que o coração sambava no peito.

- "Eu queria odiar! Tenho esse direito?"

Silêncio...

Talvez, dentro dela só caiba um sentimento. Ele é grande e ocupa um baita espaço. Por isso, ela não entende a   "i-n-d-i-f-e-r-e-n-ç-a", e assim, sofre. Dia a Dia! Momento a momento!

-" Como faço com meus excessos? Posso conviver com esse ? Talvez, eu só queira amar e ser amada. E aí, amar mais...e... mais!

Silêncio...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010


O mais difícil é não saber o que é sonho ou o que é  realidade. Chega um momento em que os pensamentos se confundem. O labirinto se torna mais complexo.E meu fio fica próximo de arrebentar.
Nessas horas de confusão a vontade é sair sem rumo, na chuva gelada para refrescar a alma quente e  sedenta. O desejo é respirar o ar da noite, enquanto todos dormem e sonham com o dia de amanhã.
A-M-A-N-H-Ã, como vivê-lo? Se parece que algo maior continua parado na esquina já passada. Esquinas que se afastam e se encontram, em um avanço e recuo que dá a intensidade do meu coração.Tudo se move!
Movimento  que se confunde no meio dos lençóis amarrotados, surrados, jogados ao  chão,  tentando domar o calor e a angústia.
Verão sufocante que vai crescendo , querendo atingir o seu máximo, até que de mansinho uma água começa a  rolar, um vento chega assobiando e nesse momento... já  não sei se estou na rua, durante a chuva,  ou  se são as  minhas lágrimas que caem intensas, querendo aliviar. O vento toca a alma.  Esquinas se encontram. Lençóis caem. A realidade se transforma em sonho. O sonho se transforma em  ...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010


Mi corazón desde entonces
La llora diario
no supe que hacer
y se me fue
Porque la deje
¿Por que la deje?
No sé
Solo sé que se me fue
No sé
Solo sé que se me fue... Yo, tú ... Nosotros...

*Para não dizer que não falei de Amor&Dor*

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Desafio
...Eu perco o chão, eu não acho as palavras... O frio da madrugada me embala, as mãos da solidão acariciam o meu rosto, como se fossem se afastar. A saudade exala o seu aroma atingindo os meus outros sentidos... Mas não acho as palavras...
Meu coração bate descompassado. Ora bate de supetão acelerado, ora bate suavemente. Ás vezes arranha minha alma, outras vezes, a beija... Sempre me questionei, se esse órgão pulsante e sensível, com o qual eu brigo diariamente, tem o formato tradicional ou se ele já adquiriu o aspecto de um ponto de interrogação... Oh! Céus! Ser ou não ser? Eis a questão! Quantas dúvidas, quantas incertezas. Será a caixinha de Pandora? Abriram e deixaram escapar todas as perguntas, mas trancafiaram as respostas. Quem foi o louco que fez isso? Ou será que fui eu mesma?...
...Eu ando tão triste, eu ando pela sala... Olho os objetos, arrumo-os, desajeito-os novamente, toco os livros idealizando que a osmose funcione... E volto para o Desafio. Escrever sobre o Amor? Quem sou eu para falar sobre o Amor? O que eu sei sobre Amar?Neste momento, lembro-me de um provérbio chinês que diz: “- me ame quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso...”. Olho ao redor, estou sozinha... e, falo para as paredes mesmo – “Agora eu não mereço”.
Olhando as estrelas, pela janela, começo a contá-las, sorrio ao recordar do adágio popular que diz crescer verrugas na ponta do nariz. Toco o meu órgão do olfato, verificando-o e deixo as contas. Das verrugas parto para as bruxas e abre-se minha imaginação para os Contos de Fadas. Penso em escrever o Amor como nas antigas histórias, e, rapidamente, pego o papel. Eu perco a hora, eu chego no fim, mas descubro, que ali ,era só o começo para novos questionamentos.Desisto de escrever aquilo, quero algo mais real, quero expressar a carne, quero invocar os desejos, pois eles também fazem parte de tal sentimento...
...Eu deixo a porta aberta... Quem sabe o vento não traz em suas asas as respostas para o Desafio. Sento-me no chão, as horas passam, olho furiosamente para os ponteiros do relógio tentando pará-los. Em meio ao clamor da Madrugada, lembro-me de Nietzsche e declamo para o Amor: “-Odeio quem me rouba a Solidão, sem em troca me oferecer verdadeira companhia...”
Verifico as travas do meu coração e pelo saltar das lágrimas percebo que talvez estejam abertas, e me ponho a balbuciar “- Entre, a porta está aberta...”... Mas, penso melhor e solto um soluço angustiante ao descobrir que talvez... Eu não more mais em mim...
Choro, compulsivamente, amasso o papel, porém  não desisto... pego outro, e tento fazer uma comparação entre Amar e a Eternidade. Agarro nas mãos de Drummond e secando as lágrimas o declamo “- Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata...”. Levanto-me e penso que isso deve ser o Próprio Amor, é a tatuagem irreversível do nosso coração...
Volto a sentar, pois Drummond solta minhas mãos, e, gentilmente pede-me para buscar minhas próprias Verdades. Nietzsche me diz que quer voltar aos livros, pois precisa ficar sozinho. Abandonada, olho para um quadro que parecia colorido, mas ali parece ser um espelho, e, portanto reflete um opaco e cinzento ponto de interrogação. Entro nele, envolvo-me, entrego-me e deparo com meu órgão pulsante acelerando-se, tento aclamá-lo, no entanto... Eu perco as chaves de Casa...
Em meio à revolta de não conseguir escrever... Em meio à angústia de não cumprir um desafio... Em meio ao meu perfeccionismo abaixo a cabeça e penso na minha ignorância e na minha frieza, afinal tantos falam sobre tal sentimento... Segundos depois, passo a mão pelo meu rosto, e pergunto-me se falam mesmo... Hei! Vocês não Sofrem?!?...
...Eu perco o freio... E passo a escrever o Amor biologicamente. Cito hormônios, descrevo movimentos cardíacos, trago o sistema Nervoso, brinco com o antagonismo do Simpático e do Parassimpático. Puxo Hipócrates, Proust, Adolf Lutz, Pasteur e até Newton surge no papo. Grito de euforia com Einstein. Também assobio com outros biólogos, discuto com outros físicos e químicos, sorrio com os médicos, faço cócegas nos psicólogos. Respiro fundo, acrescento o ponto final, penso no desafio terminado...
Pego para ler e fazer as últimas correções em tais palavras, e,  logo de início ponho de lado... Chaplin sopra ao meu ouvido “-O Homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de Amar.”... Minhas mãos tremem, meus dentes mordem meus lábios, meus olhos se fecham de decepção... Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio...
Abandono o trabalho que virou acadêmico, levanto-me e com passos lentos chego até a janela. Discuto com o vento que não trouxe nada em suas asas. Fico furiosa com minha mente por não cumprir o desafio. Brigo até com Nietzsche e outros filósofos por terem me abandonado. Dou as costas para Drummond e outros livros. Olho  tristemente  para Chaplin... E ali, parada, perplexa com a dificuldade de descrever tão precioso sentimento, coloco minha mão no peito, tentando acalmar o órgão pulsante interrogador, e,  principalmente tentando estancar a saída das perguntas... Mas parece não adiantar, pois um questionamento sai e sussurra para o Amor... Onde será que Você está agora?...

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

É difícil imaginar que algo possa doer tanto. Arrancaram-me um dente e esqueceram a anestesia. Por quê?
 Como podemos esquecer que somos todos frágeis e humanos, e, tratar o outro com tamanha indiferença?O que nos pulsa no peito?Um coração ou um relógio?
Colocamos um limite na felicidade e na presença do outro na nossa vida, pelo simples fato de não nos colocarmos no lugar daquele que estava conosco. Por não nos perguntarmos o que tudo isso representa para ele. Sem nos importamos com o fato de que cada pessoa é única, singular, imperfeita, como um pássaro pequeno que tenta seu primeiro vôo, e a única coisa que quer é o outro por perto... para não voar sozinho, para se admirar manobras, para viver e compartilhar.... Porque a força da totalidade do vento também pode doer, como dói a falta da anestesia em mim...