quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Caminhava em uma nuvem. Ela era macia e tinha um cheiro bom. Sim!Lembrava bolo de avó. Então, caminhava por ela, com um vestido leve e florido. Estava livre!Como uma pétala sedosa, e, o vento me levava, suavemente, no bolo-nuvem-de-sonhos.
Amava. Desejava. Brincava. Sorria. Falava. Gesticulava. Dançava uma bela dança, corpo a corpo; alma a alma. Juntos! Sentia proteção, olhava o mundo e entendia o amanhã. A solidão não estava mais existindo no meu dicionário.  Sim! Fui bem decidida, em uma noite, abri na página em que ela se encontrava e com poucos cortes a tirei dali. Lancei-a com gosto pela janela e voltei-me a sonhar.
Quando deitava no bolo-nuvem-de-sonhos, punha-me a imaginar o criador de tudo. Que feição sublime! Cada gesto! Grande pai! Em um momento, Ele tinha olhado para mim e dito    – “É agora!”- e deu-me a nuvem; transformou-me em pétalas;abraçou-me com um sentimento profundo, quente e intenso...Ele!
Sonhos vão! Sonhos!...Indiferença...! O vento forte veio e derrubou o que estava muito livre e flutuava de júbilo. Mas, eu não estava pronta para sair dali. Não!Não era uma folha seca, que queria voar... era um brotinho  que precisava ficar preso, bem firme e protegido. Eu nem estava satisfeita, não tinha saciado toda minha fome de doar, entregar, ser e fazer.
No entanto, o vento soprava. Alguém ordenava? Alguém ordena?!? Quem mandaria? Por que faria isso? Assim, de repente? E eu? Que grosseria! Logo, veio o pensamento de um adágio     “- quem mesmo dá, é quem tira”-. Ah! A grosseria Dele me feria e insultava-me. Como Ele podia ser tão bruto? As lágrimas caiam descompassadas como meu coração que batia sem saber o que fazer com tanto sentimento...
A idéia fixa que se colocava era de como descobrir o motivo, a razão de ser expulsa do bolo-nuvem. A seda brutalmente se transformando. O cheiro bom abruptamente desaparecendo. E a única pergunta era – “Por quê?”-
Fiquei sem resposta! E a única vontade é vingar-me, como os fracos. Contar para todo mundo o Seu segredo. Querem saber?!? Ele é injusto!Tirou-me sem deixar sentir, não sabe o valor de sentimentos e muito menos a intensidade de um sofrimento. Não indagou se podia me tirar. Autoritário! E agora? Como faço para recuperar a solidão, se até a paz parece ter fugido? Diga-me!
Olho para o céu, buscando as belas feições de outrora. Torço para elas aparecerem, para que digam “- Ficará tudo bem! -“. O olho direito entrou em parceria com o esquerdo e eles não se cansam de derramar o quê o coração não quer se despedir. O coração partiu-se, sentiu ainda mais com a queda brusca. Maldito vento!
Porém, apesar de tudo... ”-tamanha injustiça”-... olho para as nuvens, balbucio solidão e paz, quero que se casem. Canso-me, a nuvem quer se desfazer rapidamente, mas o sofrimento insiste em atuar lentamente. E lentamente não é o melhor advérbio para dor!
Apesar ...paro-me na janela e abro a página para a solidão voltar. Acho que posso colá-la no seu lugar?!?. Espero também, ansiosamente, pela paz, quem sabe com ela o vento não seja tão bruto e não  leve tudo.
Apesar... Espero mais ainda feições gentis. Que não tenha que revelar nenhum segredo. E, que, principalmente, Ele diga que ficará “- Tudo bem!”- para que rapidamente a dor saia, mas a esperança lentamente fique.