domingo, 26 de dezembro de 2010


“EM TERRA DE CEGO QUEM TEM UM OLHO É REI”
Será?!?
Incumbida de corrigir uma redação sobre esse tema, fiquei bem feliz e satisfeita. Gosto de temas filosóficos. Detesto a fórmula, a moldura textual do vestibular. E, portanto, quando o tema traz algo mais reflexivo sinto que a ‘forma correta’ pode ser, sutilmente, derrubada. Passei então a refletir sobre um viés desse tema...
Ás vezes penso: “- Onde está a deficiência? Aliás, existe deficiência? Existe diferença? O que distingue tanto? O que são os sentidos?

(...)

Chacoalha! Chacoalha!Mas não sai. Ali sentada, ela não entendia porque não respeitavam, porque as crianças zombavam, porque os adultos olhavam com dó. Ela podia ouvir, falar, sentir... Já não estava bom?
Continuava tentando tirar, mas parecia ter se tatuado em sua pele. Uma tatuagem móvel que escorregava por todo seu pequeno bracinho.
Não queria usar seus dedinhos para tirá-lo. Queria que ele saísse por livre vontade. Porém, ás vezes, chacoalhava seu corpo. Não para tirá-lo totalmente. Mas, sim, para sentir as cócegas do seu movimento.
Sentada, naquela pedra, se pôs a imaginar o que lhe estaria causando tamanha curiosidade, alegria e repugnância. Que misto de vida!
O desejo de conhecer o desconhecido fazia com sua outra mãozinha quisesse tocá-lo. Era tudo uma novidade!No entanto, o sabor do mistério era ganancioso, queria saboreá-lo calmamente. Era um brincar com o quê ainda não tinha nem nome!
Com o bracinho esticado, tentou ajeitar todo seu corpo sobre a pedra, até encostar seus grandes cachos para descansar. E ali, sossegadamente, se pôs a imaginar. Entre o cheiro de orvalho, pensou em uma pétala de rosa. Depois quis imaginar um pedaço de madeira, com seu cheiro mais forte e encorpado. Porém, seu peso não o deixava ser.
O vento ia soprando... e soprando com cheiro de chuva. Sua franja sambava sobre a sua testa, também lhe causando cócegas. Era toda riso!
Com o vento entrando intenso, pelas suas narinas, ia se transformando em uma boneca de pano. Leve, levinha! Chacoalhava! Chacoalhava! Sambava um coração!
Em meio a suas gargalhadas, mexeu o bracinho e sentiu o desconhecido escorregar... Foi caindo devagarzinho! Mas quando, finalmente, parecia que ele cairia no chão, um vento o levantou e o arrastou para o céu. Ele também sambava como si só!
Ela, logo, concluiu e ficou sonhando com a linda borboleta multicolorida que estava, solenemente, pousada sobre seu bracinho. Filosofava sobre a honra de ter sido escolhida como ponto de descanso. Chacoalhava! Chacoalhava! Risos e mais risos! Sorrisos!
Enquanto isso, aquele pequenino e desprezado pedaço de papel continuava voando, com o vento... Chacoalhando!Chacoalhando! Sambando como si só ! Risos e mais risos! Sorrisos...



Um comentário:

  1. Seria incrível se todos cultivassem a capacidade de transformar folhas de papel em borboletas.

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