terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Desafio
...Eu perco o chão, eu não acho as palavras... O frio da madrugada me embala, as mãos da solidão acariciam o meu rosto, como se fossem se afastar. A saudade exala o seu aroma atingindo os meus outros sentidos... Mas não acho as palavras...
Meu coração bate descompassado. Ora bate de supetão acelerado, ora bate suavemente. Ás vezes arranha minha alma, outras vezes, a beija... Sempre me questionei, se esse órgão pulsante e sensível, com o qual eu brigo diariamente, tem o formato tradicional ou se ele já adquiriu o aspecto de um ponto de interrogação... Oh! Céus! Ser ou não ser? Eis a questão! Quantas dúvidas, quantas incertezas. Será a caixinha de Pandora? Abriram e deixaram escapar todas as perguntas, mas trancafiaram as respostas. Quem foi o louco que fez isso? Ou será que fui eu mesma?...
...Eu ando tão triste, eu ando pela sala... Olho os objetos, arrumo-os, desajeito-os novamente, toco os livros idealizando que a osmose funcione... E volto para o Desafio. Escrever sobre o Amor? Quem sou eu para falar sobre o Amor? O que eu sei sobre Amar?Neste momento, lembro-me de um provérbio chinês que diz: “- me ame quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso...”. Olho ao redor, estou sozinha... e, falo para as paredes mesmo – “Agora eu não mereço”.
Olhando as estrelas, pela janela, começo a contá-las, sorrio ao recordar do adágio popular que diz crescer verrugas na ponta do nariz. Toco o meu órgão do olfato, verificando-o e deixo as contas. Das verrugas parto para as bruxas e abre-se minha imaginação para os Contos de Fadas. Penso em escrever o Amor como nas antigas histórias, e, rapidamente, pego o papel. Eu perco a hora, eu chego no fim, mas descubro, que ali ,era só o começo para novos questionamentos.Desisto de escrever aquilo, quero algo mais real, quero expressar a carne, quero invocar os desejos, pois eles também fazem parte de tal sentimento...
...Eu deixo a porta aberta... Quem sabe o vento não traz em suas asas as respostas para o Desafio. Sento-me no chão, as horas passam, olho furiosamente para os ponteiros do relógio tentando pará-los. Em meio ao clamor da Madrugada, lembro-me de Nietzsche e declamo para o Amor: “-Odeio quem me rouba a Solidão, sem em troca me oferecer verdadeira companhia...”
Verifico as travas do meu coração e pelo saltar das lágrimas percebo que talvez estejam abertas, e me ponho a balbuciar “- Entre, a porta está aberta...”... Mas, penso melhor e solto um soluço angustiante ao descobrir que talvez... Eu não more mais em mim...
Choro, compulsivamente, amasso o papel, porém  não desisto... pego outro, e tento fazer uma comparação entre Amar e a Eternidade. Agarro nas mãos de Drummond e secando as lágrimas o declamo “- Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata...”. Levanto-me e penso que isso deve ser o Próprio Amor, é a tatuagem irreversível do nosso coração...
Volto a sentar, pois Drummond solta minhas mãos, e, gentilmente pede-me para buscar minhas próprias Verdades. Nietzsche me diz que quer voltar aos livros, pois precisa ficar sozinho. Abandonada, olho para um quadro que parecia colorido, mas ali parece ser um espelho, e, portanto reflete um opaco e cinzento ponto de interrogação. Entro nele, envolvo-me, entrego-me e deparo com meu órgão pulsante acelerando-se, tento aclamá-lo, no entanto... Eu perco as chaves de Casa...
Em meio à revolta de não conseguir escrever... Em meio à angústia de não cumprir um desafio... Em meio ao meu perfeccionismo abaixo a cabeça e penso na minha ignorância e na minha frieza, afinal tantos falam sobre tal sentimento... Segundos depois, passo a mão pelo meu rosto, e pergunto-me se falam mesmo... Hei! Vocês não Sofrem?!?...
...Eu perco o freio... E passo a escrever o Amor biologicamente. Cito hormônios, descrevo movimentos cardíacos, trago o sistema Nervoso, brinco com o antagonismo do Simpático e do Parassimpático. Puxo Hipócrates, Proust, Adolf Lutz, Pasteur e até Newton surge no papo. Grito de euforia com Einstein. Também assobio com outros biólogos, discuto com outros físicos e químicos, sorrio com os médicos, faço cócegas nos psicólogos. Respiro fundo, acrescento o ponto final, penso no desafio terminado...
Pego para ler e fazer as últimas correções em tais palavras, e,  logo de início ponho de lado... Chaplin sopra ao meu ouvido “-O Homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de Amar.”... Minhas mãos tremem, meus dentes mordem meus lábios, meus olhos se fecham de decepção... Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio...
Abandono o trabalho que virou acadêmico, levanto-me e com passos lentos chego até a janela. Discuto com o vento que não trouxe nada em suas asas. Fico furiosa com minha mente por não cumprir o desafio. Brigo até com Nietzsche e outros filósofos por terem me abandonado. Dou as costas para Drummond e outros livros. Olho  tristemente  para Chaplin... E ali, parada, perplexa com a dificuldade de descrever tão precioso sentimento, coloco minha mão no peito, tentando acalmar o órgão pulsante interrogador, e,  principalmente tentando estancar a saída das perguntas... Mas parece não adiantar, pois um questionamento sai e sussurra para o Amor... Onde será que Você está agora?...

Um comentário:

  1. Minha cara, vc é mto boa com as palavras!!
    Vc é livre, pulsante, viva dentro de sua tristeza... Eu gosto mto de seu estilo!
    E ainda é criativa nas imagens!ehhe

    Um abraço!
    Gustavo

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